segunda-feira, 31 de março de 2008

daria um conto de Nelson Rodrigues

Ela pediu sua caneta com um sorriso irônico, mas que ele interpretou como sedutor. A seguir continuou:

_ O doutor poderia me dar também uma folhinha do seu receituário?

O médico sentiu seu coração se acelerar. Pensou "Ela vai me escrever um bilhete, está sem graça de responder à minha proposta verbalmente." Os segundos enquanto ela escrevia o bilhete foram longos em sua mente. E ele se lembrou do dia em que teve coragem de pedir seu telefone. Ele tinha 30 anos a mais que ela. E ela sempre declarou nas consultas se envolver com rapazes mais novos. Talvez aquilo o tivesse desafiado. E agora ele estava ali, a poucos instantes de saber sua resposta para sua proposta de tomarem um champagne juntos. Imaginou durante muitos meses esse momento. O champagne, seguido de momentos de luxúria, desde o dia em que ela lhe disse, justificando que não entendia ter o colesterol alterado, que não bebia, apenas um champagne ou um possecco, vez por outra.

Seu devaneio foi interrompido quando ela lhe entregou seu prontuário e ele pôs-se a ler.

No topo estava seu nome, como se ela estivesse lhe prescrevendo um medicamento. A seguir, lia-se:

SIMANCOL - caixa com 30 comprimidos - 3 comprimidos ao dia

Obs: Initerruptamente!

E quando ele teve coragem de lhe fitar novamente, ela pode ver o ódio e orgulho ferido em seus olhos, mas ela, ainda mais irônica e com um sorriso agora sarcástico, complementou, como ele fazia com seus pacientes crônicos de pressão alta, angina de peito, colesterol elevado, diabetis e outras doenças que ele tratava na clínica:

_E o senhor vai ter que tomar esse remedinho para sempre.

E levantou-se sem se despedir e deixou o consultório com a alma lavada! Pensou apenas, enquanto sentia uma extra-sístole devido ao aborrecimento "preciso procurar outro cardiologista..."

Saudades de estar jet lagged...

Saudades de um avião cruzando o Atlântico, de desembacar numa cidade desconhecida, de ouvir idiomas diferentes, de dormir em hotéis ouvindo a TV numa língua muitas vezes desconhecida.

E eu que pensei que queria abrir mão disso tudo... Cheguei a afirmar que queria uma paradinha mais slow down e a minha homeopata se surpreendeu! Pois agora me surpreendo eu: quero exatamente tudo isso de volta! Foi só uma fase. Ou então foram aqueles remedinhos doidos que ela me passou? Homeopatia é meio alquímica, portanto homeopatas podem ser considerados meio bruxos...

Mas não posso dizer que não curti essa fase. Não sei se é uma intuição, ou se a minha motivação me trará de volta aquela doida e frenética rotina que eu adorava. Mas a parada foi ótima. Adorei estar mãe integral, adorei estar vizinha integral, amiga integral dos novos-velhos-amigos do condomínio que eu só encontrava com uma mala de rodinhas na mão descendo o elevador ou cruzando o play em direção a um taxi que me esperava na portaria. Adorei os DVDs e os cinemas à tarde. Adorei as nights sem culpa. Adorei o ócio na "minha piscina" no pior sol durante todo o verão. Adorei e curti tudo... mas sou muito intuitiva e algo me diz que a moleza acabou...

Let's see...

Primeiro deu-se o caos...

... depois a ordem!

I hope so!

Alguém aí que já teve a casa em obras que atire a primeira punhada de pó de massa corrida raspada. E se esse alguém tem bronquite como eu, que atire longe por favor, mas tendo a certeza de que vai voltar tudo no seu nariz, cedo ou tarde.

Pó de gesso e pó de massa corrida são duas pragas que se espalham mais que mosquito da dengue, mas fazer o que??? Não tem outro jeito.

Aproveitei os últimos dias de férias para fazer uma reforma no apartamento. Sabe-se lá quando terei chance de fazer isso de novo. E já se vão quase seis anos aqui sem uma pintura.

Pois agora o que eu nao tinha feito de iluminação embutida na sala está sendo feito, só que com os móveis aqui. Bem que me avisaram: mexa no gesso enquanto o apartamente estiver vazio... Eu mexi, mas na sala não. E agora tive várias idéias e meu lado designer frustrada aflorou.

Bom, é agora ou nunca mais, então que seja agora! Meu quarto está pronto e amanhã começa a sala. Me apavoro só em pensar... O pintor acha que meio caminho foi percorrido, mas eu sei que é só pra me acalmar. Estamos a 70% da conclusão disso aqui.

O problema é o dilema que vivo: deixo a varanda aberta para sair o cheiro da tinta, mas espalho o pó de paredes e teto raspados por toda a casa.

Bem, não vou mostrar fotos do antes... mas prometo que mostro do depois! Se eu sobreviver!

terça-feira, 18 de março de 2008

dentro da garrafa

Era uma vez um gênio. Na verdade, uma gênio.

Ela vivia dentro de uma garrafa e sua vida era toda em preto e branco.

Um dia, um anjo achou a garrafa e libertou a gênio.

E ao sair de lá, a gênio viu que o mundo aqui fora era todo colorido.

E viveu um ano muito feliz junto ao anjo que ela agora chamava de amo.

Tudo que o amo precisava, a gênio atendia, pois ela lhe era muito grato por ter tido a vida novamente colorida.

Mas um dia, o anjo teve que partir. Precisava enfileirar uns patos.

E a gênio ficou muito triste pois achou que iria morrer de saudade.

Achou que nada mais teria graça. Nem comer chocolate, nem comer sushi, nem foundue, coisas que a gênio não curtia comer sozinha na garrafa...

E resolveu voltar para sua garrafa, redecorada com um monte de coisas da Imaginarium

A espera de que um dia, esse mesmo anjo a encontre e liberte novamente.

segunda-feira, 17 de março de 2008

depoimento

"... e no meio de tanta gente eu encontrei você..."

Você já foi mais VIP, amore... vc já teve um blog só pra vc... já teve um gênio e já foi amo... já teve até secretária! rsrsrsrs

Mas mesmo não tão VIP assim, não resisti a te enviar uma mensagem de "feliz aniversário" de um ano de uma chegada no aeroporto inesquecível... de um primeiro beijo que arranhou meu queixo... de uma noite que nunca vou esquecer...

Pois por mais que mude o sentimento ou que mude a nossa relação, vc será sempre meu amore e meu carinho e amor por vc não diminuirão de intensidade, ainda que se adequem...

Adorei que a conquista do prêmio mais desejado por vc tenha vindo exatamente um ano depois da conquista do "prêmio mais desejado por mim".

Beijos amore... se cuida tá? Vou tentar dar um tempo agora para o nosso próprio bem pois já está mais do que na hora!

Fui! Se sentir muita saudade me chama

domingo, 16 de março de 2008

Endless Love Story

...na noite anterior, na casa de uma amiga...

_Sabe que as nossas decepções são do tamanho das nossas expectativas, não?

_Sim. Mas sei também que nossas realizações são do tamanho dos nossos sonhos. Prefiro continuar sonhando alto e não me arrepender do que não fiz. Eu calculo a altura do tombo.

Toca o celular, um torpedo, e a indecisão aumenta: um lado (o emocional) aflorou com essa história de prêmio e queria estar lá, outro (o racional) lhe dizia que essa história já estava mais que batida e que ele não merecia tanto prestígio...

No dia seguinte, coloca o relógio para despertar por via das dúvidas. Acorda ainda incerta se vai ou não. Toma banho, se veste, passa perfume, entra na internet, vê que perdeu o ônibus que havia pensado... Tira a roupa, senta no sofá, pensa em desistir. Volta a se vestir, pensa que vai se arrepender mais se não for... Pega a bolsa e um casaco. Pega o elevador e faz sinal para um taxi. E finalmente vai! Pensa: "se for pra desistir que seja na rodoviária".

Chega na rodoviária e compra a passagem. Espera o ônibus. Retira um jornal de domingo cortesia para os clientes e embarca. Pega a revista para ler e chega na crônica de Martha Medeiros publicada hoje no O Globo:

Martha Medeiros - Antes de partir

Um filme cujos protagonistas são Jack Nicholson e Morgan Freeman, com diálogos bem construídos e um humor inteligente (mesmo tratando de um assunto difícil como a finitude da vida) já entra em cartaz com vantagem, mesmo que o roteiro não seja lá muito surpreendente.


Antes de Partir não é mesmo surpreendente, mas isso também pode ser uma coisa boa. Ficamos sempre correndo atrás de fórmulas novas quando deveríamos nos dedicar mais a reforçar certas verdades. E a verdade do filme, se pudesse ser resumida numa frase, seria: aproveite o tempo que lhe resta. Nada que você já não tenha escutado mil vezes.

Nicholson e Freeman interpretam dois sessentões que descobrem estar com uma doença terminal. Os prognósticos apontam seis meses de vida para cada um, no máximo um ano. E agora? Esperar a extrema-unção numa cama de hospital ou buscar a extrema excitação?
Sem piscar, eles aventuram-se pelo mundo praticando esportes radicais, conhecendo lugares exóticos, desfrutando todos os prazeres de uma vida bem vivida - claro que um deles é milionário e banca tudo, detalhe que nos falta na hora de pensar em fazer o mesmo. Você não pensa em fazer o mesmo?

Você, eu e mais 6 bilhões de homens e mulheres também estamos com a sentença decretada, só não sabemos o dia e a hora. Está certo que é morbidez pensar sobre isso quando se é muito moço, mas alcançando uma certa maturidade, já dá pra parar de se iludir com a vida eterna, amém. Com dinheiro ou sem dinheiro, faça valer a sua passagem por aqui. Não sei se você percebeu, mas viver é nossa única opção real. Antes de nascermos, era o nada. Depois, virá mais uma infinidade de nada. Essa merrequinha de tempo entre dois nadas é um presentaço. Não seja maluco de desperdiçar.

Ok, quantos de nós podem sair amanhã para um safári na África, para um tour pelas pirâmides do Egito, para um jantar num restaurante cinco estrelas na França? Ou teria coragem de saltar de pára-quedas e pisar fundo num carro de corrida numa pista em Indianápolis? Se não temos grana nem dublês, então que a gente se divirta com outro tipo de emoção, que o filme, aliás, também recomenda.

Reconheçamos o básico: uma vida sem amigos é uma vida vazia. O mundo é muito maior que a sala e a cozinha do nosso apartamento. A arte proporciona um sem-número de viagens essenciais para o espírito. Amar é disparado a coisa mais importante que existe.

Que mais? Desmediocrize sua vida. Procure seus "desaparecidos", resgate seus afetos. Aprenda com quem tiver algo a ensinar, e ensine algo àqueles que estão engessados em suas teses de certo e errado. Troque experiências, troque risadas, troque carícias. Não é preciso chegar num momento limite para se dar conta disso. O enfrentamento das pequenas mortes que nos acontecem em vida já é o empurrão necessário. Morremos um pouco todos os dias, e todos os dias devemos procurar um final bonito antes de partir.

A frase do texto: "Essa merrequinha de tempo entre dois nadas é um presentaço. Não seja maluco de desperdiçar." ficou na sua cabeça algum tempo durante a viagem. Tempo suficiente para endossar sua escolha. E pensou: "Obrigada Martha!!! Sem saber você respondeu à minha dúvida... Sem saber você endossou minha decisão, pois eu já estou aqui embarcada no tal ônibus, carpe diem que sou..."

Enviou um torpedo avisando que estava a caminho. A uma hora do seu destino, recebeu um torpedo em resposta que dizia "Bom dia! hahaha vc é muito doida mesmo! Eta afobação! Ainda estou dormindo, mas quando chegar vem pro..." seguido de um número de apartamento.

O torpedo lhe deixou o restante da viagem com um sorriso incontroloável no rosto. Daqueles sorrisos que não saem da nossa cara e intrigam os outros: "por que sorrirá assim?" Aquele sorriso intrigante do velhinho da lata de aveia Quaker!

Só aquele sorriso de expectativa por uma hora... só a adrenalina da ansiedade da chegada... só o abraço apertado para matar a saudade... só isso e muito mais que veio agregado no domingo já confirmavam que valera à pena correr o risco.

E apesar das grandes decepções geradas pelas incontroláveis altas expectativas (afinal de contas, era dia 16 de março, era o primeiro aniversário de uma data muito especial...) valeu a pena sonhar alto ainda que tenha realizado pouco, pois se não tivesse sonhado, não teria realizado nada.



NR:
E ao terminar de escrever e publicar este post escrevia mais um torpedo para ele... mas o torpedo ficou grande e resolveu escrever no Orkut...
E ao clicar "enviar" após ter digitado " se sentir saudade me chama" seu celular tocou com um torpedo dele que parecia estar lendo seus pensamentos.
E ela, que não acreditava em coincidências, entendeu que aquele torpedo era o chamado de saudade e ligou pra ele.
E é por essas e outras que essa história não tem e nunca terá fim.
E fechou esse post sem ponto final nem reticências, como fechou o texto no Orkut -lá inconscientemente, aqui não

quinta-feira, 6 de março de 2008

Figuras bizarras da night

... ou: "eu atraio maluco!!!"

Cena 01: 18 às 21

festa infantil no meu apê, 17 crianças e a situação quase sai de controle após 3h de festa, parabéns, coisa e tal, cata o lixo de leve, guarda os brigadeiros, toma um banho e troca o modelito.

Cena 02: 22:00 às 23

modelito da night, eu e duas amigas rachamos um taxi para a festa de aniversário de uma outra amiga, chegamos lá, coisa e tal, a banda tocando samba nas alturas e a gente bocejando.

Cena 03: 23:30 à 01:30

social feita, ninja nas amigas e partimos para a Six... uma hora na fila pra descobrir que naquele sábado o terceiro andar (onde toca eletro) estava fechado pra lista VIP (e as manés não tinham posto nome na lista VIP)... uma hora no limbo entre um andar e outro e resolvemos partir para outro lugar: àquela hora a fila do lapa 40º deveria estar melhor.

Cena 04: 02:00 às 04:30

motorista mal humorado do taxi não liga o ar porque "até gelar a gente já chegou na Rua do Riachuelo!" Chegamos no Lapa e não havia fila! Ufa!!! Música boa rolando no primeiro andar, gafieira no último. Ficamos no primeiro, óbvio. Sofazinhos de couro preto nos aguardavam e os pezinhos cansados agradeciam. Uma batata frita nada calórica e uma aula de futebol-arte completavam o cenário... Lá pelas 04:00 resolvemos subir pra checar novamente o gramado do 3º andar e pagar a conta por lá.

Agora começa! Esse preâmbulo todo foi só pra vocês verem em que estado eu estava quando me deparei com as cenas bizarras da night!!!

Cena bizarra 001

O DJ para de tocar sambinha e manda um Barry White: ... you are the first, the last, my everything... Desistimos de pagar a conta e resolvemos dançar um pouquinho. Uma biba doida vem em minha direção mas àquela hora eu não percebo que é biba nem quais suas reais intenções. Me afasto e volto a dançar com minhas amigas. A biba insiste em dançar comigo e eu, percebendo qual era a dela, entro na pilha: " vamos lá biba: à coreografia afinal!!!" danço com a biba com direito a bater bundinha e à biba descer até o show se lambendo na minha frente... isso dura apenas uns minutinhos, o suficiente para minhas amigas (e os amigos da biba) se acabarem de rir.

Cena bizarra 002

Vamos para a fila pagar afinal. E eu penso: eu atraio maluco!!! Mal penso isso e um menino bonitinho, aparentando uns 17 anos vem na minha direção, olha pra mim e quando eu penso que já ouvi de tudo na night ela manda, fazendo o gesto com a mãozinha na frente da barriga: "Tô com uma fome!!!" Toda a sorte de zuação que o moleque sofreu e como termina essa noite bizarra já é tema de outro post. Vou ficando por aqui. No próximo conto em detalhes...