domingo, 16 de março de 2008

Endless Love Story

...na noite anterior, na casa de uma amiga...

_Sabe que as nossas decepções são do tamanho das nossas expectativas, não?

_Sim. Mas sei também que nossas realizações são do tamanho dos nossos sonhos. Prefiro continuar sonhando alto e não me arrepender do que não fiz. Eu calculo a altura do tombo.

Toca o celular, um torpedo, e a indecisão aumenta: um lado (o emocional) aflorou com essa história de prêmio e queria estar lá, outro (o racional) lhe dizia que essa história já estava mais que batida e que ele não merecia tanto prestígio...

No dia seguinte, coloca o relógio para despertar por via das dúvidas. Acorda ainda incerta se vai ou não. Toma banho, se veste, passa perfume, entra na internet, vê que perdeu o ônibus que havia pensado... Tira a roupa, senta no sofá, pensa em desistir. Volta a se vestir, pensa que vai se arrepender mais se não for... Pega a bolsa e um casaco. Pega o elevador e faz sinal para um taxi. E finalmente vai! Pensa: "se for pra desistir que seja na rodoviária".

Chega na rodoviária e compra a passagem. Espera o ônibus. Retira um jornal de domingo cortesia para os clientes e embarca. Pega a revista para ler e chega na crônica de Martha Medeiros publicada hoje no O Globo:

Martha Medeiros - Antes de partir

Um filme cujos protagonistas são Jack Nicholson e Morgan Freeman, com diálogos bem construídos e um humor inteligente (mesmo tratando de um assunto difícil como a finitude da vida) já entra em cartaz com vantagem, mesmo que o roteiro não seja lá muito surpreendente.


Antes de Partir não é mesmo surpreendente, mas isso também pode ser uma coisa boa. Ficamos sempre correndo atrás de fórmulas novas quando deveríamos nos dedicar mais a reforçar certas verdades. E a verdade do filme, se pudesse ser resumida numa frase, seria: aproveite o tempo que lhe resta. Nada que você já não tenha escutado mil vezes.

Nicholson e Freeman interpretam dois sessentões que descobrem estar com uma doença terminal. Os prognósticos apontam seis meses de vida para cada um, no máximo um ano. E agora? Esperar a extrema-unção numa cama de hospital ou buscar a extrema excitação?
Sem piscar, eles aventuram-se pelo mundo praticando esportes radicais, conhecendo lugares exóticos, desfrutando todos os prazeres de uma vida bem vivida - claro que um deles é milionário e banca tudo, detalhe que nos falta na hora de pensar em fazer o mesmo. Você não pensa em fazer o mesmo?

Você, eu e mais 6 bilhões de homens e mulheres também estamos com a sentença decretada, só não sabemos o dia e a hora. Está certo que é morbidez pensar sobre isso quando se é muito moço, mas alcançando uma certa maturidade, já dá pra parar de se iludir com a vida eterna, amém. Com dinheiro ou sem dinheiro, faça valer a sua passagem por aqui. Não sei se você percebeu, mas viver é nossa única opção real. Antes de nascermos, era o nada. Depois, virá mais uma infinidade de nada. Essa merrequinha de tempo entre dois nadas é um presentaço. Não seja maluco de desperdiçar.

Ok, quantos de nós podem sair amanhã para um safári na África, para um tour pelas pirâmides do Egito, para um jantar num restaurante cinco estrelas na França? Ou teria coragem de saltar de pára-quedas e pisar fundo num carro de corrida numa pista em Indianápolis? Se não temos grana nem dublês, então que a gente se divirta com outro tipo de emoção, que o filme, aliás, também recomenda.

Reconheçamos o básico: uma vida sem amigos é uma vida vazia. O mundo é muito maior que a sala e a cozinha do nosso apartamento. A arte proporciona um sem-número de viagens essenciais para o espírito. Amar é disparado a coisa mais importante que existe.

Que mais? Desmediocrize sua vida. Procure seus "desaparecidos", resgate seus afetos. Aprenda com quem tiver algo a ensinar, e ensine algo àqueles que estão engessados em suas teses de certo e errado. Troque experiências, troque risadas, troque carícias. Não é preciso chegar num momento limite para se dar conta disso. O enfrentamento das pequenas mortes que nos acontecem em vida já é o empurrão necessário. Morremos um pouco todos os dias, e todos os dias devemos procurar um final bonito antes de partir.

A frase do texto: "Essa merrequinha de tempo entre dois nadas é um presentaço. Não seja maluco de desperdiçar." ficou na sua cabeça algum tempo durante a viagem. Tempo suficiente para endossar sua escolha. E pensou: "Obrigada Martha!!! Sem saber você respondeu à minha dúvida... Sem saber você endossou minha decisão, pois eu já estou aqui embarcada no tal ônibus, carpe diem que sou..."

Enviou um torpedo avisando que estava a caminho. A uma hora do seu destino, recebeu um torpedo em resposta que dizia "Bom dia! hahaha vc é muito doida mesmo! Eta afobação! Ainda estou dormindo, mas quando chegar vem pro..." seguido de um número de apartamento.

O torpedo lhe deixou o restante da viagem com um sorriso incontroloável no rosto. Daqueles sorrisos que não saem da nossa cara e intrigam os outros: "por que sorrirá assim?" Aquele sorriso intrigante do velhinho da lata de aveia Quaker!

Só aquele sorriso de expectativa por uma hora... só a adrenalina da ansiedade da chegada... só o abraço apertado para matar a saudade... só isso e muito mais que veio agregado no domingo já confirmavam que valera à pena correr o risco.

E apesar das grandes decepções geradas pelas incontroláveis altas expectativas (afinal de contas, era dia 16 de março, era o primeiro aniversário de uma data muito especial...) valeu a pena sonhar alto ainda que tenha realizado pouco, pois se não tivesse sonhado, não teria realizado nada.



NR:
E ao terminar de escrever e publicar este post escrevia mais um torpedo para ele... mas o torpedo ficou grande e resolveu escrever no Orkut...
E ao clicar "enviar" após ter digitado " se sentir saudade me chama" seu celular tocou com um torpedo dele que parecia estar lendo seus pensamentos.
E ela, que não acreditava em coincidências, entendeu que aquele torpedo era o chamado de saudade e ligou pra ele.
E é por essas e outras que essa história não tem e nunca terá fim.
E fechou esse post sem ponto final nem reticências, como fechou o texto no Orkut -lá inconscientemente, aqui não

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