"Desse jeito vão saber de nós dois,
Dessa nossa farra
E será uma maldade voraz
Uma hipocrisia
Nossos corpos não conseguem ter paz
Em uma distância
Nossos olhos são dengosos demais, demais..."
Era um torpedo que chegava e ela sempre deixava a estrofe tocar inteira. Era a resposta.
"Oi amor, estou mesmo precisando viajar, mas ... bla, bla, bla..."
Pensou. Ótimo: dessa você não vai precisar viajar. Viajo eu.
Mas de repente seu lado racional começou a berrar: "Que maluquice é essa que você está fazendo? Nem um beijo você vai ganhar nessa viagem. Gastar essa grana à toa."
Mas seu lado emocional rebatia: "Dinheiro é feito pra isso. E não quero beijo, quero apenas matar a saudade... A vida é feita dessas loucuras. De que vale uma vida que não se vive? Onde não se arrisca? O pior que pode acontecer é eu chegar lá e ele não estar. Não poder encontrar comigo. Eu durmo. Compro uns chocolates e durmo!"
Chegou no check in da TAM. Achou melhor mandar o torpedo logo que embarcasse. Pra não correr o risco de se arrepender. E não ter que ficar muito tempo à toa no aeroporto.
Fez o check in:
_ Bagagem senhora?
_Não, só a de mão, obrigada.
_Janela sua preferência?
_Sim, por favor.
_Aqui está. Embarque doméstico portão 26. O vôo parte às 09:20 e o embarque está previsto para 08:50.
_Obrigada.
Olhou no relógio: 08:45. Estampava um sorriso no rosto e esperava que esse sorriso continuasse o fim de semana. Sabia que continuaria. Apenas a sua presença lhe fazia bem. Só de pensar no sei sorriso ela já sorria. Ficou imaginando como seria sua reação ao vê-la chegar.
Foi para a sala de embarque. No painel de partidas seu vôo não mostrava o portão. Logo ouviu um anúncio nos alto-falantes.
Atenção passageiros do vôo 3092 com destino a Salvador e conexões, informamos que a aeronave tem previsão de pouso neste aeroporto para 09:30 e tão logo esteja em solo informaremos o portão de embarque.
Pronto! Ia atrasar o vôo. Pensou: "Por que esse pessoal de terra mente pra a gente? Podiam ter dito que estava atrasado no check in que eu não teria vindo para a sala de embarque." Pegou o MP3 player, mas desistiu na primeira música. Foi para uma livraria procurar um livro interessante. Deu e cara com o livrinho de capa rosa abaixo.
Não era adepta de auto-ajuda. Tinha entrado pensando em comprar "Quando Nietzsche Chorou", mas não resistiu e começou a ler a sinopse...
(continua)
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