terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Solidão

Ela entrou no metrô e reparou numa senhora sentadinha, pensativa num daqueles bancos laranjas. Chegou a estação final e a senhora não desceu. Ela não achou estranho. Lembrou que um dia sua tia, já bem idosa, ficou "passeando" de metrô de uma estação à outra "só pra se refrescar no ar condicionado". O calor estava relmente terrível no Rio, mas ela ficou refletindo sobre a velhice, sobre a solidão, sobre um monte de coisas só por causa daquela senhorinha que não desceu do vagão.

Pensou: "Essa vida é mesmo uma incógnita. Quando a gente é novo, imagina que estar sozinho, ou melhor, sentir solidão, é meio que uma opção nossa. Que se você casar, tiver filhos, uma família grande e presente, um monte de amigos, uma rede grande de conhecidos, estará imune à solidão." Mas cenas como àquela a faziam refletir. Hoje em dia ela já sabia que casamentos não eram eternos nem garantia de uma companhia na velhice. Filhos muito menos! Sempre soube!

O que seria garantia então? Nada! Absolutamente nada! Se o tal destino existisse mesmo, muito mais que o livre arbítrio, de qua adiantaria? Se a pessoa estivesse pre-destinada a ficar só por uma questão cármica???

Uma coisa era a pessoa estar só por opção. Há momentos em que se quer estar só. Ela mesma: adorava viajar sozinha. Uma vez leu uma crônica da Danuza Leão aconselhando as leitoras a viajarem para Paris sozinhas e entendeu perfeitamente o prazer que aquilo podia proporcionar. Viajar sozinha era uma das coisas que curtia.

Mas óbvio que já tinha passado por momentos onde se sentiu sozinha no meio de uma multidão. E sabia que a solidão era um tabu e que as pessoas evitavam falar sobre ela. Usavam de eufemismos ou a transformavam em poesia. Só para que ela parecesse menos feia.

Conhecia gente que procurava aumentar desesperadamente a rede de "amigos" dando mais atenção aos "novos amigos" que aos atuais. A ponto de, com esse comportamento, magoar muito os atuais!!! Mas entendia que isso era no fundo um comportamento de "tentar fugir da solidão". Era muito compreensiva! Às vezes pensava que devia ser menos compreensiva...

Pensou de novo na senhora do metrô. Podia estar só por opção ou não. Podia ter filhos ou não. Podia aturar um marido só pra dizer que tinha um, ou não. Porque se tivesse um marido presente e fosse feliz com ele, vamos combinar que ele deveria estar lá passeando com ela??? Mas viu que estava reduzindo tudo e todos a clichés e esteriótipos. A senhora podia simplesmente ter errado a estação e ter decidido voltar!!!

Pensou que esse medo súbito da solidão só podia estar vindo da TPM. Ou da possibilidade de vir a se mudar para um país distante. De ficar longe da família e dos amigos atuais. E tudo isso somado ao fato de que "o amor da sua vida" estava cada vez mais distante. Cada vez menos idealizado e mais voltando à realidade de fato: era apenas seu amigo. Um grande amigo, mas apenas isso. O tal sonho e a "certeza" de que ficariam juntos ficava cada vez mais distante à medida em que ela percebia o abismo que os separava...

Mas não queria falar desse abismo. Na verdade não queria falar de nada disso. Mas a senhora do metrô foi o propulsor desses pensamentos sobre a solidão. Ou talvez um sonho que teve à noite. Lembrou que sonhou que tinha tido um outro filho... Um bebezinho (óbvio!) Mas no sonho era um bebezinho ainda, isso que ela quis dizer. Pensou se não estava vendo filmes reflexivos demais. Tinha assistido "Jornada da Alma" sobre um amor secreto de Jung ontem. E tinha adorado!!!

O fato é que ela precisava colocar esses pensamentos sobre a solidão para fora. Então pronto: escreveu! Sabia que o blog era também um canalizador para esses sentimentos e não apenas um lugar para textos elaborados e bem escritos. Normalmente os primeiros, quando densos demais como este, ela deixava no draft, poupava os leitores da blogterapia. E os últimos, ela sonhava em selecionar para um livro...

Mas resolveu publicar este simplesmente pela falta de inspiração para outro post.

Um comentário:

Unknown disse...

maravilhoso!