domingo, 16 de setembro de 2007

da minha janela

Da janela da minha infância e adolescência, na casa dos meus pais, eu via o sol nascer... À noite eu via um céu estrelado, apesar das luzes da cidade. Via a lua nascer amarela e cheia no leste... Quando era pequena e quase não haviam prédios na frente do meu, eu via a quadra do Salgueiro e os foliões descerem fantasiados para o desfile das escolas de samba. Era uma época tranqüila aquela... Quando o Rio começou a ficar mais violento, passei a ver algumas balas traçantes lá bem longe... Mas já estava me mudando para meu primeiro apartamento.

Neste apartamento, eu via o sol se por. Via a quadra do Salgueiro na Silva Teles e via a Pedra do Elefante na reserva do Grajaú. Era uma vista linda, mas muito quente. O sol da tarde esquentava todo meu apartamento e não havia ar condicionado que o refrescasse à noite. E da quadra do Salgueiro uma vez ouvi um show do Frejat como se estivesse tocando a guitarra dentro do meu quarto... Fiquei com uma antipatia do Frejat durante um tempo por causa desse show. Eu queria dormir!!! A antipatia passou depois que eu ouvi ele cantando a música tema de Mais uma vez Amor. E se fosse hoje, quer saber? Eu teria descido e ido lá pro show... Se não puder derrotá-los junte-se a eles (isso não vale para forró!)

Depois engravidei e mudei para um apartamento maior. No 18º andar de um prédio, virado para o Corcovado. Via o Cristo lá longe e à noite, várias luzezinhas que na verdade eram várias favelas da Tijuca e Santa Teresa. Vi algumas balas traçantes ali também e vi um assaltante (o tal do homem aranha) invadir um apartamento de um prédio em frente e fazer refém a moradora. Foi tenso. Interfonei para os porteiros, pedi que um deles fosse na cabine da PM para avisar, e finalmente vi o bandido fugir e nada aconteceu à moradora, graças à Deus. Se eu fosse na varanda e olhasse à esquerda, em dia de Desfile de Escola de Samba, via os holofotes coloridos da Marquês de Sapucaí iluminarem o céu. E da janela do quarto da minha filhota eu via a piscina do América em baixo e em frente, em dias de céu de brigadeiro, eu via o Dedo de Deus em Teresópolis. Mas da Praça Afonso Pena eu ouvia forró como se fosse lá em casa. E eu odeio forró. Mas tocava muito forró ali!!! Muito mesmo!!! Ou o pouco que tocava me irritou muito!

Eu via também uma cobertura (mais baixa que meu andar é óbvio...) onde rolavam altas festas. Era muito legal. Eu pensava: um dia vou morar numa cobertura dessas e dar altas festas também. Mas um dia ela ficou vazia. E eu vi o dono dela subir, sentar de frente ao deck da piscina e ficar ali nostálgico por alguns minutos. Imaginei o que ele estaria sentindo... Saudades das festas? Teriam os filhos ido morar no exterior? Teria ele se separado da mulher depois de tantos anos? A empresa teria quebrado? Um filho teria gastado tudo em drogas e levado o pai à falência? O que teria acontecido para ele se mudar? Senti por ele a tristeza dele e ele nem sabe disso...

Depois meu casamento entrou em crise e uma última tentativa do barco não afundar foi comprar esse apartamento onde moro agora. Escolhi o apartamento pela planta, pelo preço e pela vista da piscina (já que ainda não posso ter vista para o mar). Pelo preço acabei me mudando do 18º para o 1º andar. E como é virado para a parte interna do condomínio e quase não vejo céu aqui. Não vejo o sol nascer, não vejo a lua cheia. No dia do eclipse da Lua fui com minha filha para o play e sentei na grama sintética. Me senti uma neo-hippie-de-plástico.

Mas o que eu mais vejo aqui são janelas. Janelas de vizinhos do prédio em frente. Em um dos apartamentos, tem duas velhinhas fofoqueiras que controlam a vida de todo o meu bloco. Tinha um apartamento cheio de gatos (sentido literal não metafórico) e agora tem um vizinho tarado. Tarado e sem noção. Fica fazendo caras e bocas para mim enquanto estou aqui no laptop na sala e o idiota acha mesmo que eu vou olhar pra a cara dele. Outro dia foi pelado para uma janela maior para que eu visse que estava nu! Francamente!!!! First of all, I've seen better... much better and many others!!! E o cara tem uma namorada, mulher, sei lá o que ela é dele, gata. É um babaca mesmo... Fazer o quê??? Eu que não vou colocar cortina na minha varanda por causa do tarado. Pra mim varanda significa liberdade e cortina me aprisona. Vou deixando ele se achar...

E você? O que você vê da sua janela?

4 comentários:

Luiza Serafim disse...

Adorei...como termina com uma pergunta vou responder!
Da minha janela atual eu acho q dá pra ver o nascer do sol pq logo qnd acordo tá uma CLARIDADE bem no meu rosto! Dá pra ver o batalhão...a rua...as pessoinhas passando...nao tem nenhum tarado...
huum...dá pra ver a lua de noite e se se esticar dá pra ver o por do sol tbm!
Enfim...muitas coisas!
;D

Anônimo disse...

Como moro no Itanhangá da minha janela vejo toda a Barra da Tijuca além de montanhas e muita floresta. Tudo isso rodeado pela Lagoa de Marapendi, vocês podem imaginar que visão que tenho ao acordar :-)

Anônimo disse...

da minha janela mesmo não vejo muita coisa interessante. A não ser que eu queira saber como está o trânsito na Rua das Laranjeiras, pq lá distante é o que eu vejo. Minha janela fica de frente pra entrada da minha rua e lá no final é a Laranjeiras. Tenho um amigo que faz um assovio muito legal quando vem subindo minha ladeira e eu adoro quando ele vai lá em casa e começa a chamar desde lá de baixo...eu me sinto na própria vilazinha do interior!

Mas a vista que tenho mais adorado mesmo é a da casa da mamãe, que dá direto pra casa do meu irmão e fico lá só controlando os passos do meu sobrinho. Fica todo mundo na espreita: "Ah lá! Acordou!" rsrsrsrs

Anônimo disse...

Eu adorei a maneira como você transforma o cotidiano em histórias tão verdadeiras, em personagens tão ricos e até apaixonantes. Quando digo isso é claro que eu não estou me referindo ao idiota do tarado que se acha...rsrsrs...mas me refiro ao personagem da cobertura, o nostálgico. Adorei demais! Achei emocionante! Beijooooooooooooooo!